terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mãe e mulher anarquista


Este é outro texto que a tempos fica caraminholando na cabeça e nunca coloco "no papel".

Antes de mais nada:

"O anarquista vê em cada homem um irmão, um ser igual, não um irmão inferior e faminto a quem pratica caridade, mas um cidadão a quem deve justiça, proteção e defesa. (Anarquia, Manuel Gonzales Prada). Se há alguma coisa a censurar no anarquista, afirmam, só pode ser o seu otimismo, a confiança na bondade “ingenua” do homem. (ABC do Anarquismo - Edgar Rodrigues)"

Meu pai era anarquista, mais na ideologia do que como militante, fui criada dentro desses principios, não fui batizada, nossas ceias de Natal sempre tinham porteiros dos prédios vizinhos, trabalhadores das construções próximas, ele sempre me falava que ninguém era maior ou melhor que ninguém porque fez faculdade ou tinha dinheiro, valor pessoal era outro. Só que ele nunca se intitulou como anarquista, socialista ou o que for.

Meu primeiro contato com um anarko punk foi aos 14 anos, não me identificava com a contracultura, o visual, mas sim com os ideais. Minha adolescência sempre estava metida em grêmios, centros acadêmicos, manifestações estudantis, mas também meio a parte por não me identificar com a esquerda comunista.

Cresci e como infelizmente acontece com a maioria das pessoas, deixei de lado as ideologias e fui correr atrás de dinheiro, trabalhar, trabalhar, trabalhar, me tornando uma liberal de carteirinha, escrava infeliz do sistema. Até conhecer meu companheiro Idilio, anarquista militante, que realmente acredita na luta, na ação direta, que não se deixou contaminar nem corromper.

Enquanto éramos apenas nós 2, estávamos juntos nas reuniões, nas manifestações, tudo mudou com a maternidade. Como ir a uma manifestação com risco de apanhar da policia com um bebê no colo? Acampar sem condições com uma criança?

Hoje não posso dizer que sou uma militante ativa, mas sim passiva, fornecendo meios para que meu companheiro possa militar mais ativamente. As vezes "fico de bico" quando ele sai e tenho de ficar sozinha com as crianças, momento totalmente egoista, sou humana...

E outros dilemas que passamos, o consumismo desenfreado que meus filhos estão expostos, com todas as outras crianças com todos os brinquedos e roupas que querem, o desejo do tal lanche com apelo absurdo sobre eles. Questões religiosas na escola pública que deveria ser laica... Proibir? Negar? Desconversar? Isso não seria uma atitude libertária e sim uma imposição, exatamente contra tudo que lutamos. Então minha filha pede o Mc Lixo inFeliz, eu a levo com pesar só lembrando do holelite de exploração dos que trabalham lá, mas já expliquei que tanto eu como o papai não gostamos de lá, que não precisamos ter tudo o que vemos na TV, só o necessário para vivermos bem. Questões religiosas foram debatidas com a professora que se mostrou inflexivel, então tivemos que trabalhar em casa.

Outra questão importante é o de não ser anarquista da porta de casa para fora. O anarquismo dentro de casa é vivo, pulsante... somos todos os 4 iguais, com direitos e responsabilidades, ninguém acima de ninguém. É trabalhoso lidar com isso pois somos criados a mandar nos mais fracos, bebês e crianças não sabem se expressar direito, não sabem debater, como saber o limiar entre um desejo egoista e o respeito as vontades e necessidades deles, é um exercicio e prática diária.

Ter ideologias tão opostas não é fácil.

- Por ser atéia, sempre tem quem queira me converter ou se escandalizam pq não falo de Deus para meus filhos, como se fosse um crime (e cadê a liberdade de crença?)
- Por ser anarquista, a maioria já acham que sou da esquerda, confundindo com os petistas (o que para mim é pior do que me xingar do pior palavrão)
- Por defender o parto domiciliar e a amamentação prolongada, de ser como ouvi uma vez, querer ser bicho, índio (nessa fiquei orgulhosa, pq tenho vergonha do homem branco)

Enfim, minha mãe sempre me disse que gosto de ser do contra... mas o que seria do mundo se todos fossemos iguais sempre?

domingo, 9 de outubro de 2011

Mais mãe x Menos mãe




Estreando o novo blog com um desabafo que penso em escrever a tempos... a tal história de "mais mãe" e "menos mãe"...

Estou a voltas com assunto maternidade por uns 6 anos, e desde que comecei a conversar com outras tentantes, gestantes e mães, sempre rola esse assunto, principalmente, mas não só na internet.

Porque as mulheres tem de ser sempre tão competitivas? Nunca vi homens discutindo se são mais pais, menos pais, mais machos, menos machos, mais bonitos, menos bonitos.

E já tive problemas sérios com esse tipo de discussão...

Sou, ou tento ser, a melhor mãe que posso para meus filhos, sempre busquei muitas informações na internet e tudo que eu achava interessante ou válido, divulgava as outras mães, adorava debater idéias e as vezes até me exaltava sim em algumas conversas. E sempre nesses debates saia a tal expressão "menos mãe" das que discordavam da minha opinião. E na maioria dos debates que leio, a tal expressão sempre surge de quem não concorda, não que alguém a acuse disso. Será que o menos mãe esteja na cabeça de quem discorde?

Hoje tenho amizade com os mais variados "tipos" de mãe, e não considero nenhuma "mais" ou "menos" mãe, tem as tiveram filhos por cesárea, escolhida ou não, como as que tiveram parto domiciliar, tem as que não amamentaram, porque não puderam ou não quiseram, tem as que trabalham fora, as que deixaram de trabalhar para ficar com os filhos, as as que deram chupeta, mamadeira e as que usaram copinho, papinha pronta ou papinha orgânica, que aplicam o "Nana Nenê", as que fazem cama compartilhada, crianças sem rotina nenhuma, outras com rotina super rigida, escolinha quando bebê ou depois dos 4 anos, nenuhma delas considero melhor do que a outra.

Inclusive, se pensasse assim, eu seria menos mãe em diversos itens:

- cesárea eletiva da minha filha
- filha entrou na escolinha aos 2 anos e meio
- tive depressão pós parto
- fumei a gestação inteira do meu filho
- dei mamadeira para o meu segundo filho
- já dei papinha pronta para ambos os filhos
- perco a paciência com as crianças
- deixo eles assistirem televisão
- deixo eles comerem bobagens
Entre outros...

Pessoalmente, apoio o parto normal humanizado e se pudesse teria parto domiciliar mas me faltou coragem e grana. O que não significa que quem pense o contrário esteja errada. O que está errado são as mulheres terem de brigar tanto para conseguirem ter o parto normal.

Amamentei meus filhos exclusivamente por 6 meses, minha filha sem outro leite até os 2 anos e meio, já meu filho até 1 ano onde passou a complementar com LV e se desmamou com 2 anos.

Sou voluntária em aleitamento materno, auxiliando as mães que desejam amamentar, nas dificuldades iniciais que acontecem. E digo sempre a todas as mães, antes uma mamadeira dada no colo com carinho do que o peito contrariada.

Divulgo que mamadeira e chupeta provocam desmame precoce e podem acarretar problemas na respiração, arcada dentária e outros. E meu filho tomou mamadeira por 1 ano por comodidade minha, pois com o copo de transição ele também tomava numa boa mas não se aconchegava no meu colo para dormir.

Eu deixei de trabalhar antes mesmo de engravidar para me dedicar integralmente a familia e aos filhos, hoje trabalho em casa e tem dias que não tenho tempo para eles (e me sinto culpada sim, mas é um problema meu de organização).

Pratiquei cama compartilhada com a minha filha, com meu filho eu que fui para o quarto deles, pois meu marido não concordava em ter novamente um bebê em nossa cama.

Fui super rigorosa com a alimentação inicial da minha filha, hoje ela come de tudo e adora comida saudável. Já com meu filho, fui mais relaxada e permiti guloseimas cedo, e por ele vive disso e não quer saber de comida, máximo é um arroz ou macarrão com farinha, come algumas frutas e alface. E bobagens em geral.

Gosto de conversar e ajudar outras mães, mas o que falo ou oriento são baseadas nas minhas leituras e experiências, não sou dona da verdade (acho que ninguém é). E nem tudo que funciona na minha vida seja válida para todos.

E porque escrevi tudo isso? Porque não aguento mais ver as acusações de que fulano se acha "mais mãe" por isso ou por aquilo, se ciclano seja "menos mãe"... cada ser humano tem suas crenças, suas limitações e ninguém é melhor que ninguém. Paremos de "mimimi" e gastemos energia com o que interessa, sermos melhores mães que podemos!