terça-feira, 23 de outubro de 2012

Nascimento do Guilherme Akira


- Por conta da diabetes gestacional, meu obstetra não queria correr o risco de estender a gestação além de 39 semanas, então fizemos indução mecânica (descolamento de placenta) no dia 13/07/09. Mas não tive nem sinal de contrações.

- Uma semana depois, na quinta, fui fazer monitorização fetal no Madre Theodora e meu obstetra resolveu fazer uma declaração de interrupção do parto, pois achou que a movimentação do Gui tinha diminuido (na verdade fizemos 2x o exame, mas demoravam tanto que eu comia, Gui mexia muito, mas passava 1h, era eu deitar que ele aquietava). Tive que ouvir do outro plantonista que era uma pena que estivesse em carência para o parto, pq dai ele me internaria a força e me colocaria na ocitocina até eu implorar por uma cesárea e parar de frescura.

- Fui pra Maternidade de Campinas e lá o médico declarou que o NST estava mal laudado, se recusou a tentar indução com ocitocina por conta da cesárea anterior justificando que é procedimento seguido pela Soc. de Ginecologia e Obstetrícia, agendando uma cesárea para a manhã do dia seguinte e me mandou de volta pra casa. Decidi que não voltaria mais lá.

- Na madrugada, às 0:15, a bolsa estourou. Fiquei muito feliz e fiquei aguardando as contrações começarem. Cheguei até a dormir um pouco... como não tive nem sinal de TP, decidimos às 4 da manhã ir pra Maternidade Celso Pierro (SUS).

- Lá me internaram e iniciaram o soro com ocitocina às 8hs da manhã. Antes teve a tricotomia (feita sem nem explicarem nem nada) e quando questionei falaram que era obrigatório (?!?). Não permitiram o acompanhamento da minha querida amiga e doula Rubi, que junto com meu marido ficaram numa luta pra conseguir me acompanhar no pré parto, só faltaram falar com o papa... mas não teve meios...

- Não senti nada até às 13:30 horas... A médica examinou, dilatação de 5 cm. Ficava apenas olhando as outras gestantes gemendo, entrando e saindo da sala de pré parto para ganhar os bebês... fiquei a única grávida na sala, como o movimento estava grande nesse dia, as mães voltavam pra essa sala após o parto.

- Passei a sentir as contrações mesmo, fortes, pelas 14 hs. Pedi para ir ao chuveiro para aliviar um pouco, mas já avisei a enfermeira da vontade de empurrar. Me levaram ao chuveiro, consegui me concentrar no parto mesmo e deixei meu corpo agir... agachei e passei a fazer força. A enfermeira me agarrou, pedi pra me deixarem alí, ela me deitou na maca e chamou médica. Dilatação total. Correram comigo pro centro cirurgico, chamaram meu marido pra assistir o parto (ao menos isso!!!), me anestesiaram (sob meus protestos), episiotomia e todos os outros procedimentos desnecessários foram feitos sem nem explicarem ou falarem... Como estava na Partolândia como fala a Rubi, nem me toquei da colocação do fórceps... só queria saber do meu marido e de deixar meu filho nascer...

- Foi um momento mágico e maravilhoso sentir e Guilherme saindo e ouvir seu primeiro chorinho... tão baixinho... totalmente indescritível a energia e felicidade que senti nesse momento.

- Depois disso, veio a sessão tortura... não sei se a anestesia aplicada ainda não tinha feito efeito, mas senti todas as agulhadas da sutura da episio, os apertões pra acelerar a saída da placenta, retirada do fórceps... nessa hora senti dores, reclamei muito, nem sei quando tiraram o Idilio da sala. Depois me mandaram pra sala de recuperação, onde fiquei até sábado a tarde, por falta de quartos... Também não sei quanto tempo levaram pra me trazer o Gui pra mamar, mas ao menos deixaram-o comigo o tempo todo depois, mesmo em condições precárias dentro do Centro Obstétrico. Só fui para o quarto mesmo no sábado a tardinha, onde pude ver meu marido, que me contou dos casos de gripe H1N1. Ainda tentamos alta assinando termo de responsabilidade, mas queriam manter o Guilherme lá... resolvemos aguardar a alta no domingo, mesmo com medo. Pedi que ninguém viesse ao hospital pelos riscos já que sairia no dia seguinte.

- Minha recuperação física é milhões de vezes melhor, emocionalmente estou mais fortalecida, sinto uma grande paz, mesmo em meio aos problemas todos que passamos... não por conta da via de parto, mas pela luta desde antes do Guilherme ser concebido, do apoio mais do que necessário de meu amado esposo, a ajuda e compreensão de toda a familia, as orientações da Rubi (e a amizade especial que ganhei). Sinto sim que somos vencedores..
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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Questões de parto e feminismo

Lendo um texto sobre violência obstétrica postado no Blogueiras Feministas, uma das respostas me chamou demais minha atenção por concordar plenamente com ela e aqui reproduzo. E ai, o que você pensa sobre isso?




De: Renata Correa

O que chama muita atenção e causa espanto que quando o assunto é o parto a porta para o diálogo é sempre fechada com alegações de que sim, a cesárea pode ser uma escolha. Eu também acho que a cesárea pode ser uma escolha legítima e não só uma cirurgia de emergência, mas definitivamente me causa espanto que essa seja a alegação e a bandeira TODA vez que abordamos o assunto, pois ele é muito mais complexo do que isso. Envolve um machismo extremamente virulento, envolve desiguladade de classe e racial, envolve conhecimento técnico, a situação da prática e da remuneração médica no brasil como um todo.
Mas eu gostaria de me ater a dois aspectos:
O primeiro é: militantes pelo parto humanizado não estão discutindo a cesárea individual, e sim a cesárea como epidemia.
A cesárea individualmente é sua cesárea, é a cesárea da vizinha ou da sua mãe. Quando temos 85% de cesareanas na rede privada e cerca de 50% de cesareanas na rede pública é DADO de saúde. E o que esses dados dizem?
Em primeiro lugar que não existe respeito pelo desejo da mulher pela via de parto. Segundo pesquisas, a maioria das mulheres sabe leigamente sobre os riscos da cirurgia, e gostaria de “tentar um parto normal”. Mas a maioria acaba sendo submetida a uma cesárea, geralmente sem respaldo médico ou em evidências científicas.
A prática médica e a realidade do atendimento obstétrico não estão descolados da realidade da sociedade: desigual, patriarcal, capitalista e machista.
Ela é desigual quando sabemos que quanto mais jovem e negra, mais a possibilidade de uma mulher sofrer violência obstétrica. Ou quando um médico diz que até faria parto normal, mas a paciente é tão “branquinha” e isso é mais fácil para índias e negras. (Eu ouvi isso)
É patriarcal quando o médico se acha no direito de mentir a respeito das causas que o levaram a indicar a cirurgia. Quando o médico passa por cima da lei do acompanhante, não permitindo a entrada de doula ou do marido no centro obstétrico pois “vai atrapalhar e para ter seu filho vc só precisa do médico”.
É capitalista quando as cesáreas são agendadas por uma questão comercial do estabelecimento (hospital), que também vende serviços conexos que dependem do agendamento e horários pré estabelecidos – como fotógrafo, buffet com garçom, maquiador, “cine parto”, etc.
É machista quando práticas médico-farmacológicas ultrapassadas como a episiotomia de rotina, mutilam o corpo da mulher, causando danos irreversíveis.
E esses são só alguns exemplos.
O segundo aspecto é mais “filosófico”.
Vivemos uma cultura onde o corpo da mulher é tratado como corpo patológico e tudo que vem dele é patologizante, principalmente se estamos falando da vagina.
Apenas por termos nascido mulheres estamos erradas e necessitamos de todo tipo de intervenção para enquadrar o nosso corpo no padrão normatizante – precisamos nos depilar, pois pelos são sujos, suspender a menstruação indiscriminadamente por ser incomoda (falo indiscriminadamente pois existem casos onde sim, é necessário ou desejável suspendê-la.) precisamos usar absorventes neutralizadores de odor pois a vagina “fede”.
Quando falamos em gravidez e parto nem se fala: grávidas são bombas relógio que NECESSITAM de intervenções ou irão morrer. Com variações é esse o discurso médico vigente.
A maioria dos médicos que engana as pacientes com falsas indicações de cesárea usa o discurso cruel de não funcionamento do corpo da mulher (você não dilata, você é estreita, suas contrações são irregulares) ou o discurso do terror que usa o desconhecimento técnico da mulher para submetê-la (seu bebê está em “sofrimento” quando a patologia “sofrimento fetal” é rara e de diagnóstico multidisciplinar e dificílimo).
Quando uma mulher reproduz o discurso de “não tenho estrutura emocional para ter um parto normal”, ou “tenho medo da dor” ela está reproduzindo o discurso machista do não funcionamento do corpo dela. Pode ter escolhido agendar a cesárea por esses motivos, e terá sido uma escolha legítima, mas ainda assim será SINTOMA de como a sociedade trata o nosso corpo feminino – fraco, incapaz, defeituoso.
Quando uma mulher diz que “prefere confiar no médico” que quer lhe aplicar uma cesárea a despeito de evidências científicas ou de sua vontade, também é uma escolha legítima – mas ainda assim ela está reproduzindo uma relação patriarcal onde a vontade, a disponibilidade, o desejo e a agenda do médico estão acima de sua saúde, da saúde do seu bebê e acima de suas necessidades fisiológicas e emocionais como parturiente.
Então eu realmente gostaria que quando começassemos a discutir o assunto parto num ambiente feminista, a gente PARASSE de falar do próprio parto, de se justificar, de dizer que comigo foi assim e assado e que acha que cesárea é uma super escolha no brasil quando na verdade temos uma conjuntura de extrema opressão.
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Só dois palitos:
Muita gente confunde parto humanizado com parto natural – um parto humanizado é um parto onde a equipe respeita as decisões da mulher a respeito do parto e segue as evidências médico científicas a respeito do parto e dos cuidados com o neonato. Já o parto natural é o parto feito sem nenhuma intervenção – soro com hormônio sintético, anestesia ou episiotomia. Um parto natural pode ser humanizado e vive versa, mas não são a mesma coisa. Um parto humanizado pode ter anestesia, por exemplo, se for desejo da mulher.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Todo mundo é incompetente, inclusive você!



Lembro na minha pré adolescência que meu pai me mostrou esse livro, no intuito de falar que não dá pra ser perfeito e fazer tudo... E hoje lembrei dele, em meio ao turbilhão de coisas que passam em minha cabeça...

Estava pensando nas razões que me levam a depressão, porque não ligo muito para mim, sou tão desapegada ao meu corpo fisico e ultrapasso os limites de preservação.

A que nivel de incompetência que o ser humano chegou? Hoje somos incompetentes para pensar sozinhos, para fazer o minimo para si e para os outros. Tão fácil falar que a mídia, que a sociedade, que isso ou aquilo gera o alienamento, a acomodação, etc... Mas somos imcompetentes para romper com isso? Somos tão incompetentes que hoje as mulheres não sabem nem mais parir, nem maternar, nem cuidar dos filhos, que as pessoas em geral não sabem cozinhar um mínimo, como cuidar de uma casa, de uma planta, de todas as questões cotidianas, não sabemos nem ao menos tomar decisões mais! Ter iniciativa para absolutamente nada! Simplesmente ir e fazer... precisamos das bençãos dos outros, precisamos de líderes, da ordem e pensamento de outros para seguir?

Que merda viramos??? Que porra de racionalidade é essa que de racional não tem nada? Em que ponto nos perdemos e ficou comodo delegar e terceirizar nossa vida?

Sim, hoje estou super deprimida, com nojo de ser humana, com a destruição do planeta e de nós mesmos. Porque é para isso que estamos caminhando. Porque cargas d´água acreditei que é possivel o mundo ser melhor e ter filhos? Se o restante do mundo NÃO QUER MUDAR, alguns ficam só no QUERIA QUERENDO mas não se mexe uma virgula pra mudar isso? E por que só os outros tem de mudar e eu não? 

E por que eu que sou errada em querer e lutar por um mundo melhor, sozinha catando as conchas na praia? Por que não consigo instigar outras pessoas a fazerem o mesmo? Por que dá trabalho? Por que estão mais preocupados em ter dinheiro para um novo celular, um carro melhor, viajar, curtir o rolê, porque é mais interessante e necessário enriquecer outros para receber apenas as migalhas?

Olho para meus filhos e minha vontade no momento é de pedir perdão... por deixar a eles essa merda que está caminhando cada vez mais para o pior, e fazer tão pouco com o que posso. Pois estou sozinha, porque só eu vejo que isso está muito errado e quer realmente mudar...

sábado, 29 de setembro de 2012

Aborto

Essa semana especificamente, o tema recorrente nas redes sociais foi sobre a DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO. Muitas pessoas são contra, muitas pessoas a favor, um debate interessante que entra em esferas pessoais, religiosas, morais e sociais.

A questão maior é que quem é contra parte para o lado moral e religioso da coisa, onde o debate deveria ser a problemática SOCIAL.

Quem defende a descriminalização não são PRÓ-ABORTO, não querem impor que as mulheres abortem, que essa seja uma solução mágica, que são contra a vida do embrião em formação. É saber ver a problemática dos abortos que já ocorrem onde mulheres morrem por abortos clantestinos e mal feitos. Terceira causa de morte feminina no pais, que afeta quem não tem condições nem discernimento para isso.

Quem tem um mínimo de conhecimento e dinheiro, pode realizar abortos em clinicas clandestinas com médicos, por aspiração ou uso do Cytotec, sem maiores sequelas físicas (porque as emocionais, morais, essas ficam para sempre! A não ser que a pessoa não as tenha). Quem não tem, e é mais afetada por essa politica de proibição são as mulheres sem recursos, sem conhecimento, sem apoio. São essas mulheres que sofrem por abortos feitos com objetos perfuro cortantes, por métodos perigosos, morrendo de hemorragias, infecções, com medo de procurar assistência médica para não serem presas, e mesmo as que nem sabem disso e vão, são discriminadas e deixadas para morrer.

E os abortos acontecem em um índice assustador mesmo com ela sendo proibida em nosso pais, 1 EM CADA 7 MULHERES passam por abortos clandestinos. E a terceira causa de morte feminina são por complicações desses abortos. Então essa proibição não funciona. Não existe politica pública realmente eficaz. Mais uma vez demonstrando que o Estado de nada serve a não ser piorar as coisas.

Sim, eu sou a favor da DESCRIMINALIZAÇÃO, mesmo sendo o fato um ato reformista, pois é urgente. No blog da dra. Melânia fala sobre politicas que deram certo e reduziram esses índices de mortalidade. Aqui mais informações técnicas: http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/estima-se-emcerca-de-1-milhao-o-numero.html

A responsabilidade por cada morte materna, de cada aborto provocado é NOSSA! Sim, por permitir que vivamos nesse mundo de desigualdades sociais, de extrema pobreza, por perpetuar esse sistema falido e assassino. E quem ainda apoia essa politica retrógrada, que faça EFETIVAMENTE algo a respeito para mudar essa realidade, apoiando essas gestações indesejadas então, não com esmolas e caridade, não com meros debates em redes sociais, vá lá mudar essa realidade escandalosa!!! Deixe de ser omisso em sua vida, pare de pensar apenas no seu lindo umbigo e sua vidinha confortável e pequeno burguesa.

E para quem pensa em passar por um aborto, digo com experiência própria, é uma agressão enorme ao seu corpo, mas a dor física não é nada perto do restante. Foram anos me sentindo uma assassina sim e hoje consigo falar sobre isso sem chorar e sofrer. E tive que passar por isso praticamente sozinha, com apenas uma grande amiga me dando conforto emocional. E a gestação ocorreu aos 16 anos não por inconsequência, e sim por falha do preservativo, a decisão for por total falta de apoio e compreensão da familia, da sociedade, decisão que tomei sozinha por todas as consequencias que uma gestação nessa época causariam inclusive para o embrião que estava no meu ventre, pois desejo sempre tive de ser mãe, mas que eu pudesse realmente maternar. E hoje acredito sim que foi o melhor.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eu não sou “menasmain” porque escolhi a cesárea!




Sim, essa afirmação caberia a mim, eu escolhi a cesariana como via de nascimento da minha filha. Eu queria parto normal, eu sabia que meu obstetra era cesarista, ele não me forçou a fazer a cirurgia, eu que liguei para a clinica e agendei a cesárea.

Opa, péra lá, não tem nada errado aqui não? Você apóia o parto humanizado, foi na marcha do parto em casa, que história é essa?

Eu queria o parto normal, minha mãe teve os três filhos por parto normal, então considerava a melhor forma de nascimento. E só. Tive uma gestação difícil, placenta prévia, diabetes gestacional, depressão. Troquei de obstetra umas três vezes por não aceitar a cobrança extra para acompanhamento do parto, já estava até decidida a ter com o plantonista, mas precisava de um obstetra que realmente me acompanhasse a gestação e me transmitisse segurança. Nunca tinha ouvido falar de doula, quanto mais de parto humanizado, parto domiciliar era para quem não tinha hospital com aquelas senhorinhas parteiras... Só não queria a cesárea, medo de cirurgia, do corte.

Obstetra falou que eu poderia sim ter parto normal, a placenta subiu e a diabetes não seria impedimento se bem controlada, mas que ele preferia a cesárea por poder agendar a data, a mãe poder se programar para o nascimento do bebê, deixar quarto e enxoval pronto, ir ao cabeleireiro se cuidar já que depois que nascesse não teria tempo para isso. Outros obstetras marcam a cesárea para casos de diabetes gestacional às 38 semanas, ele nem tocou no assunto, assim minha gestação chegou às 40 semanas, entrei em pródomos, fui para o hospital, o plantonista “bonzinho” me deu remedinho para a dor para não sofrer e voltamos para casa, no dia seguinte passei em consulta, e claro, quase nenhuma dilatação, contrações totalmente irregulares ainda, ele comentou que poderia passar ainda uma semana nessa, ou marcar a cesárea para o dia seguinte, quando meu companheiro declarou “não vou agüentar ver ela sofrendo uma semana inteira”. Sim, essa declaração dele abalou, afora a pressão familiar toda de que tava passando da hora. Voltamos para casa, mandei todo mundo me deixar sozinha, e chorei, chorei, chorei, fiquei umas duas horas no telefone com meu pai que me apoiaria na decisão que eu tomasse. E agendei a cirurgia. E minha filha foi nascida, e choramos, como choramos, eu e ela!

Nunca me senti menos mãe pela cirurgia, nem senti julgada por isso, ninguém apontou dedo na minha cara para dizer que eu era menos mãe. Mas EU me senti MENOS MULHER. Eu me senti fraca por agendar a cesárea. E hoje com as informações que tenho, por não ter dado um nascimento que considero digno a minha filha.

Então esta culpa, de me sentir menos mulher, que me fez buscar mais informações, como as maternas dizem, me empoderar, e transmitir esse conhecimento para outras gestantes.

O fato de divulgar as vantagens do parto humanizado não significa impor que toda gestante deva seguir esse caminho. Divulgar as desvantagens e riscos da cesariana, principalmente eletiva, não é JULGAR como inferior quem passou pela cirurgia por escolha ou necessidade.

Hoje eu sei que não basta QUERER um parto normal. Tem de lutar, se informar, buscar profissionais que realmente apóiem o parto e não darão desculpas para agendar a cesariana.

Concordo com esse sistema atual? Nenhum pouco, porque quem deseja um parto não tem muita escolha e tem de lutar. E nem todas tem toda essa gana para brigar pelo nascimento que deseja ao filho, a gestação já é uma mudança tão grande, hormonal e emocional, e ainda ter de brigar para poder parir?

OK, você escolheu a cesárea eletiva, não o parto. Praticamente todos os obstetras o farão. Aqui na nossa cidade, eu conheço apenas DUAS obstetras que apóiem o parto humanizado e não inventarão desculpas para a cirurgia. E algumas parteiras que atendem a região se desejar um domiciliar.

Então, dá pra entender um pouquinho só porque as ativistas da humanização do nascimento fazem tanto alarde? Algumas até se revoltam com tanta cesárea eletiva, querem a todo custo mostrar ao mundo que não é bom nem pra mãe muito menos para o bebê, e até as mais radicais que acham que a eletiva devia ser proibida?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Acabou

Acabou
depois desse tempo juntos,
você já não cabe em minha vida.
Sinto tua falta? Sim
Desesperadoramente,
Conforme as horas passam,
a ansiedade aumenta,
penso em você,
cresce a pressão em meu peito,
Coração dispara,
Me falta o ar
Me seguro,
Resisto
Mais um dia
Só mais um dia

Me arrependo
de te desejar tanto
E choro por dentro
Sofro

Porque é tão difícil te arrancar simplesmente da minha vida?

Penso que agora, essa minha dependência já não seja mais química, e sim emocional... Quantas sabotagens, delírios, desejos, tentativas desesperadas de substituir as descargas frequentes de dopamina. Vicio, dependência, escravidão...

Estou muito emoção, e isso me assusta, demais, não sei lidar com isso, nunca soube...

Pára! É uma droga lícita! Para que todo esse drama? É o que racionalmente penso, isso nos momentos que consigo ser um pouco racional (que antes era comum).

Erika, por favor, me ajude, concentre-se, respire fundo, acredite em você. Deixe de lado os delírios, foco na batalha somente. Não adianta desenterrar fantasmas do passado nem criar situações absurdas, nada mais pode ser usado como desculpa para recorrer a ele.

O pior já passou, foram 23 anos se envenenando todos os dias, agora o corpo implora por ele. Não ceda. Por você principalmente, por seus ideais, por seus filhos, por seu companheiro que nunca gostou mas por amor conviveu todos esses anos com ele entre vocês.

Tanta coisa já foi superada, quantas lutas você conseguiu vencer? Essa será mais uma, tenha certeza. Coragem, determinação.

Coloque hoje o ponto final nessa relação que só faz mal, de vez. São 20 dias ensaiando, sofrendo, evitando, 20 dias de desintoxicação. Agora é aprender a viver novamente, sem amarras, livre...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Amor Libertário



"Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade"
A Maçã - Raul Seixas

Quando falamos em "amor livre" ou "amor libertário" já vem a mente a idéia de libertinagem, do pode tudo, irrestritamente.

Mas o que seria "amor livre"? Na minha visão é que o amado não é um objeto de posse e vice versa, que num relacionamento ambos tenham os mesmos direitos, os mesmos prazeres, mas sem a obrigação imposta de monogamia ou poligamia, ou qualquer coisa que o valha.

Desde adolescente, sem nem saber das teorias libertárias ou ter ouvido sobre o termo amor livre, não conseguia ter relacionamentos com ninguém na base da mentira. Ficava com um cara, se ele voltasse a me procurar a primeira pergunta, sempre na lata era "o que é que você quer comigo, curtir, ir ficando sem compromisso ou quer namoro certinho com fidelidade?". Nem preciso dizer que assustei um punhado de pretententes, e que dos poucos que assumiam querer um lance mais aberto não suportavam que eu ficasse com outro cara e vinham as inseguranças, cobranças e eu os mandava a merda.

E quem acha que foi diferente com o Idilio, não foi. Só que ele não se assustou, não sei se estava muito bêbado pra ter prestado atenção, se a paixão era tanta que o cegou... enfim, ele falou em relacionamento monogâmico. Para quem nunca suportou se sentir presa a nada, era estranho eu gostar esse relacionamento certinho, a vontade de sempre estarmos juntos, sem cobranças, só vontade pura e simples.

Pois é, noivamos, casamos, tudo como manda o figurino (Nada anarquista não?) No dia do casamento, eu tinha tanta certeza do passo que estava tomando que não fiquei nervosa, estava serena, tranquila, e tive que ouvir mais de uma vez que não parecia que eu estava casando (claro, depois entendi pq se choram em casamentos, rs...)

"Mas o relacionamento de vocês não é baseado no amor livre!!!" Ao contrário, é totalmente baseado no amor libertário. Apesar de termos assinado o papel do Estado confirmando nossa união, nunca me senti obrigada a nada com meu marido, nem de ser fiel, me apresentar como boa esposa e tudo o que a sociedade cobra. Como eu nunca exigi isso dele.

Ah, então rola oba oba, troca de casais, swing, menage a trois, a suruba? Nada disso, somos o casal mais careta que eu conheço, monogâmicos por opção, sexo com amor, com prazer, com desejo real.

Sexo por sexo libertino, isso se consegue em qualquer barzinho hoje, onde as pessoas viraram objetos, escolhidos por adjetivos: "novinhos" "fáceis" "ficáveis" "interessantes" "playboy" "cafa" (tá, eu também já falei assim, confesso, não pegava novinhos, que grudavam depois, preferia os cafas, achando que eu estava acima por usar o cara, já fui muito idiota sim, confesso).

Conversando atualmente com pessoas "normais", presas as regras da sociedade, religião e Estado, que interferem na relação pessoal de um casal o obrigando a fidelidade perpétua e até sexo obrigatório (sim, tem uma lei que o conjuge pode cancelar o casamento caso a outra parte se recuse a ter relações), vejo o desejo (nem sempre) contido pela infidelidade, de homoafetividade enrustida, do sexo marital por obrigação, a prostituição doméstica (se submete ao desejo do marido, pois tem medo de que não o satisfazendo, ele busque outra. Querendo ou não, há aí uma espécie de prostituição doméstica." *), a maternidade imposta (não por desejo do casal, e sim mera obrigação do casamento, a reprodução).

"Tudo o que é proibido é mais gostoso"? A imposição, as regras são tão fortes assim que as pessoas não conseguem libertarem-se disso?

Prefiro mil vezes o amor real, livre, leve, solto, libertário... do que a falsa sensação de segurança que as imposições sociais pregam. Prefiro mil vezes permitir que meu companheiro seja livre para amar e ter prazer como desejar mesmo que não seja comigo, como eu também preciso ter essa liberdade.

Que possamos ser 2 individuos inteiros que desejam estar juntos, não 2 seres incompletos que precisem do outro, criando dependência, relação de posse, ciumes, insegurança.

Quero sempre poder diferenciar o amor do desejo e do prazer puramente sexual. Saber respeitar e não fechar os olhos as diferentes formas de se relacionar e amar, não me fechar a nada, liberdade plena...




*Citação do blog: Casamento e Prostituição: http://pomodadiscordia.blogspot.com/2005/06/casamento-e-prostituio_11.html

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sonho e realidade

Sonho… eu sonho com um mundo em que todos tenham direitos iguais, oportunidades iguais. Não um mundo de iguais, como robôs, pois a diversidade nos enriquece. Desejo que cada um possa realmente escolher qual caminho seguir, tenha acesso livre as informações, que possam viver como querem, livres.

Neste meu sonho, as mulheres teriam o direito a escolher sobre o parto, onde ter, como ter, como maternar, educar os filhos, conviver… hunrun, já sei, vão dizer que hoje as pessoas tem tudo isso e que muitas não querem ou abrem mão da escolha. Infelizmente não é verdade, uma minoria tem acesso às informações, as que tem acesso nem sempre conseguem ter o parto ou criar os filhos como desejam. Nesse mundo real, direitos não são iguais…

Por mais acesso a informação que tive, por mais que me empoderei, não tive um parto normal e muito longe do humanizado que desejava. Após uma cesárea e com diagnóstico de diabetes gestacional, sabendo que nada disso era impedimento para o PN, procurei o grupo de parto alternativo do CAISM, foi negada a minha participação. Na Maternidade, agendaram a cesárea às 38 semanas, isso tudo pelo SUS. Como última alternativa, fui a última maternidade possível pelo SUS após rompimento da bolsa e apenas com cartão de pré natal nas mãos. Tive um VBAC meia boca, com uso desnecessário do fórceps, quebra total das normas pois faziam todos os procedimentos sem nem falarem nada, foi impedida a entrada da minha amiga (e também doula) durante o TP, deixaram meu marido entrar apenas no último minuto depois de me darem anestesia a força (porque eu me jogava para trás gritando que eu não queria), fora que fiquei mais de 12 horas na sala de recuperação por falta de quartos, sem nem poder ver minha família nem mesmo meu marido. E ainda tive de ouvir, “mas você teve o seu filho de parto normal como queria”. Me digam, foi um parto normal?

Ah, mas eu deveria ter um parto domiciliar… só se fosse desassistido e isso eu não tenho preparo mesmo. Não desvalorizo o trabalho maravilhoso das parteiras e toda equipe médica, mas como honrar o trabalho delas, onde tirar dinheiro para se pagar por esse serviço, se em casa, vivemos com menos de 3 salários mínimos por mês?

Pobres sonham quando muito, em ter um leito no hospital pra passar por um parto frank e ainda durante o TP gemem baixinho pra não incomodar as técnicas em enfermagem, o aleitamento materno exclusivo por 6 meses é utopia, mesmo com a licença maternidade, vão amamentar no máximo até os 3 meses, pois os postos de saúde dizem apoiar a amamentação, só que a conversa é outra na sala da pediatria. Muitas delas não sabem o que humanização de parto, até sabem da importância de amamentar, mas como? Elas tem de trabalhar pra não passar fome.

São essas mesmas mulheres que vão fazer a faxina na casa de muitas leitoras aqui do blog, são as atendentes de telemarketing que nos irritam com suas ligações, as caixas de supermercado, as monitoras que cuidam dos seus filhos nos berçários… questiono, elas não são mulheres e mães como todas aqui? Não deveriam ter os mesmos direitos? Só porque não tiveram a mesma oportunidade de estudar, fazer uma faculdade, merecem menos?

E meu questionamento e luta atuais não são apenas em divulgar as vantagens do parto normal, do aleitamento, do attachment parenting, da não violência a crianças… mas para que TODAS as mulheres tenham esse direito, levando isso até elas. O difícil é esse trabalho de formiguinha, sozinha…

Texto que escrevi para o blog do Mamiferas: http://www.mamiferas.com/blog/2011/12/sonho-e-realidade.html