terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sonho e realidade

Sonho… eu sonho com um mundo em que todos tenham direitos iguais, oportunidades iguais. Não um mundo de iguais, como robôs, pois a diversidade nos enriquece. Desejo que cada um possa realmente escolher qual caminho seguir, tenha acesso livre as informações, que possam viver como querem, livres.

Neste meu sonho, as mulheres teriam o direito a escolher sobre o parto, onde ter, como ter, como maternar, educar os filhos, conviver… hunrun, já sei, vão dizer que hoje as pessoas tem tudo isso e que muitas não querem ou abrem mão da escolha. Infelizmente não é verdade, uma minoria tem acesso às informações, as que tem acesso nem sempre conseguem ter o parto ou criar os filhos como desejam. Nesse mundo real, direitos não são iguais…

Por mais acesso a informação que tive, por mais que me empoderei, não tive um parto normal e muito longe do humanizado que desejava. Após uma cesárea e com diagnóstico de diabetes gestacional, sabendo que nada disso era impedimento para o PN, procurei o grupo de parto alternativo do CAISM, foi negada a minha participação. Na Maternidade, agendaram a cesárea às 38 semanas, isso tudo pelo SUS. Como última alternativa, fui a última maternidade possível pelo SUS após rompimento da bolsa e apenas com cartão de pré natal nas mãos. Tive um VBAC meia boca, com uso desnecessário do fórceps, quebra total das normas pois faziam todos os procedimentos sem nem falarem nada, foi impedida a entrada da minha amiga (e também doula) durante o TP, deixaram meu marido entrar apenas no último minuto depois de me darem anestesia a força (porque eu me jogava para trás gritando que eu não queria), fora que fiquei mais de 12 horas na sala de recuperação por falta de quartos, sem nem poder ver minha família nem mesmo meu marido. E ainda tive de ouvir, “mas você teve o seu filho de parto normal como queria”. Me digam, foi um parto normal?

Ah, mas eu deveria ter um parto domiciliar… só se fosse desassistido e isso eu não tenho preparo mesmo. Não desvalorizo o trabalho maravilhoso das parteiras e toda equipe médica, mas como honrar o trabalho delas, onde tirar dinheiro para se pagar por esse serviço, se em casa, vivemos com menos de 3 salários mínimos por mês?

Pobres sonham quando muito, em ter um leito no hospital pra passar por um parto frank e ainda durante o TP gemem baixinho pra não incomodar as técnicas em enfermagem, o aleitamento materno exclusivo por 6 meses é utopia, mesmo com a licença maternidade, vão amamentar no máximo até os 3 meses, pois os postos de saúde dizem apoiar a amamentação, só que a conversa é outra na sala da pediatria. Muitas delas não sabem o que humanização de parto, até sabem da importância de amamentar, mas como? Elas tem de trabalhar pra não passar fome.

São essas mesmas mulheres que vão fazer a faxina na casa de muitas leitoras aqui do blog, são as atendentes de telemarketing que nos irritam com suas ligações, as caixas de supermercado, as monitoras que cuidam dos seus filhos nos berçários… questiono, elas não são mulheres e mães como todas aqui? Não deveriam ter os mesmos direitos? Só porque não tiveram a mesma oportunidade de estudar, fazer uma faculdade, merecem menos?

E meu questionamento e luta atuais não são apenas em divulgar as vantagens do parto normal, do aleitamento, do attachment parenting, da não violência a crianças… mas para que TODAS as mulheres tenham esse direito, levando isso até elas. O difícil é esse trabalho de formiguinha, sozinha…

Texto que escrevi para o blog do Mamiferas: http://www.mamiferas.com/blog/2011/12/sonho-e-realidade.html