segunda-feira, 31 de março de 2014

Não mereço ser estuprada, ninguém merece!

Quando é que as pessoas vão realmente entender que o estupro, a violência contra crianças, mulheres, vem do machismo, do patriarcado?

Sério isso, não são os pancada, não são deficientes mentais nem psicopatas que promovem a violência! A ideia de que mulheres são objetos de prazer que legitimam o ato!

Quando eu era criança, tinha 6 pra 7 anos, dois adolescentes, filhos da vizinha, estavam na minha casa, na minha sala, colocaram o pênis pra fora e me forçaram a felação. Eu inocente não sabia nem o que tava fazendo, eles riam, eles estavam felizes. Quem desconfiaria não é? Afinal eles me viram nascer, sempre conviveram comigo, que mal fariam? Depois de ADULTA fui entender o fato.

Aos 13 anos, indo pra escola no ônibus, o pai de uma amiga no mesmo ônibus, lotado, na desculpa de ficarmos juntos, ficou se esfregando e resfoleando, eu não tendo como sair da posição, até sentir minhas nádegas úmidas. E ainda tive de descer no mesmo ponto do velho tarado. Passei a fazer hora na escola com medo de pegar o mesmo ônibus de novo. Nunca contei aos meus pais. A ninguém.

Aos 14 anos, fui cumprimentar e desejar feliz aniversário para um amigo que cheguei a ficar, esses namoricos adolescentes, rapaz estava completando 18 anos e que estava com casamento marcado com outra moça, acabei entrando no carro dele para conversar, ele quis mostrar o apartamento onde iria morar. E lá, com uma arma apontada pra minha cabeça, ele me violentou. E me fez jurar que nunca falaria disso pra ninguém, até porque, quem acreditaria não? Eu entrei no carro dele, eu fui até o apartamento... Eu era a puta, a vadia que foi pra cama com homem compromissado... Como já tinha ficado com ele, queria acabar com o casamento e blablabla... Fora que tive de ouvir dele que eu não era virgem afinal não tinha sinal de sangue no lençol!

E claro que por muito tempo achei que a culpa foi minha mesmo. Mulher direita não entra em carro com outro homem. Mulher direita tem de se vestir recatadamente. Ainda mais eu, gorda, baixinha, cara de nerd. Maquiagem, coisa de puta. Sempre tava vestida de calça jeans preta e camisetas G de cores escuras. E tênis ou sapatos masculinos. Por não me sentir digna de me mostrar como mulher. Homens são fortes. Homens não são estuprados. Homens são respeitados. Homens são ouvidos. O máximo de feminino que tinha, eram as unhas cumpridas.

Tinha medo de ter contato mais íntimos com os rapazes. Relações todas superficiais, porque um namoro "obriga" a maiores intimidades, só ir ficando nos beijos era melhor, e quando havia a tentativa mais ousada o fato de eu repelir era indicativo de que "me dava o valor", mas na verdade era o pavor... Não acredito que até hoje tenha superado totalmente esses traumas.

Compreender que a culpa não foi minha, em nenhuma das vezes, esconder a dor aqui dentro, a impotência contra essa situação, saber que meus filhos estão expostos a essa mesma violência, e que pessoas perpetuam esse pensamento que leva a tamanha agressão, deprime. Só que calar é alimentar e perpetuar isso. E é necessário combater, mudar essa realidade. Mudar a ideia de que somos objetos.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

As etapas de transição (ou eita lerdeza!)



Meu primeiro contato com o veganismo (militância) se deu a uns 10 anos atrás, ao receber companheiros veganos em casa e fazer perguntas (estúpidas!) ao Idilio antes como "Mas nem queijo? Nem ovo? Nem peixe? Vou cozinhar o que? Mas que extremismo!". Daí a realmente me interessar, querer saber mais, levou muito, mas muito mais tempo.
Uns 2 anos depois, o Idilio resolveu que deixaria de consumir carne animal. Pronto, eu não sabia mais cozinhar. Vai comer o que? Toca pegar livros e livros, caçar receitas. Fiquei super perdida. Fui apresentada a proteína de soja, a carne de glúten. Não me adaptei de cara. A dieta, mal equilibrada, passou a dar problemas de saúde em meu companheiro, que sem grande apoios e com grandes boicotes de todxs ao redor (e me incluo nela!), acabou deixando de lado. Mas a experiência foi válida, ao menos aprendemos a preparar pratos vegetarianos / veganos. E eles passaram a fazer parte da nossa alimentação. Aprendi as diferenças e as razões de cada um. Que desde então, passei a respeitar as opções de cada, sempre me preocupando com xs veganxs nos eventos, uma forma de grande respeito e admiração.
Nessas, engravidamos da Ana, a alergia a proteína do leite que ela tinha, me ensinou a cozinhar com outros tipos de leite. Depois veio o Guilherme, avacalhamos com tudo (sendo que ainda hoje o bezerro se alimenta de 500ml de leite de vaca mais 200ml de iogurte).
Mas também com a gravidez do Guilherme, veio a Rubiane para nos doular, e com ela posteriormente a amizade com a Carol. E com a okupa Timothy Leary, contato maior com o Dedé que desmistificou a história que ser vegano sai caro. E esse estreitamento e paciência destes companheiros, nas conversas, nos posts, foram semeando o desejo em mim de mudanças. Só que pra realmente mudar, ao menos comigo, não funciona num estalo de 5 minutos e faço radicalmente a coisa, fui amadurecendo a ideia, resistindo por conta da dependência, dos prazeres, enfim...
A conversa, de inicialmente, a partir de 2014, de deixarmos de comprar carne para consumo próprio em casa, partiu do Idílio, que a Ana aprovou também. Este é o primeiro desafio. Fácil? Nenhum pouco!!!
A primeira compra de mês deste ano, fiquei totalmente perdida!!! Levei o dobro do tempo dentro do mercado, para planejar o que levar, não ir automaticamente comprando o de costume, como planejar a alimentação diária que era muito baseada na "mistura" que ditava todo o resto.
O planejamento também, não é simplesmente substituir carne animal por PVT e seitan. Não tem sentido nenhum ao menos pra mim. A meta é tentar ao máximo não fazer substituição, é limpar a noção de que nas refeições precisamos da mistura, de que dá pra se alimentar e bem com o restante. Se rolar um hambúrguer de batata, não é pra substituir nada na mesa.



E na hora de preparar as refeições nesta primeira semana, vários travamentos, olhava pra mesa com a sensação de que tá faltando coisa... É a transição...
Por enquanto continuamos com ovos, leite e derivados principalmente por conta do Guilherme (lembrando, nada imposto! Ele não escolheu essa alimentação, foi apresentada a ele, agora não posso obrigá-lo a mudar, tem de vir conscientemente dele o desejo de mudança).
Esta primeira semana, foi bem tranquila para a Ana e para o Idílio que nem perceberam diferença, eu confesso que mais difícil pra mim. Pro Guilherme, nada mudou... rs...

domingo, 29 de dezembro de 2013

Desconstrução - próximos passos

Pensei em criar um blog novo, mas desisti da ideia, sou assim mesmo, diversas linhas, diversos caminhos, diversas lutas. Como a vida, não existe apenas um jeito e um caminho...

Desconstruir é destruir o que está enraizado e construir o novo. Não é reformar. É bem mais radical. E dói pra caralho "deixar de ser o que se é", sair da zona de conforto, mexer em você mesma (porque é mais fácil apontar pros outros mudarem).

Os tristes "Quadrinhos dos anos 10" - http://www.malvados.com.br/

Estou em processo de desconstrução um tanto quanto mais "agressivo" a pouco mais de dois anos, quando primeiramente resolvi abandonar a dependência da nicotina. Não só por uma questão pessoal, de saúde (claro que ela pesou muito também), mas pela incoerência, pelas palavras que ficaram sempre ecoando em meus ouvidos, do finado velhinho Diego Gimenez, pedindo que eu abandonasse o vicio, como um grupo de militantes da Guerra Civil Espanhola fizeram, também deixando a outra droga, o álcool, em prol de nossa ideologia. Afinal, nos envenenar só fortalece ainda mais o sistema não é? Demorei um bocado, praticamente 10 anos depois daquela nossa conversa Diego, mas consegui!

Vieram com isso mudanças que acompanham o processo, abandono do sedentarismo, transformações alimentares, uma consciência diferente da vida como um todo.

O próximo passo agora, é a questão da alimentação sem exploração. Não seguirei rótulos de vegetariano, vegano, nem nada do gênero... As mudanças serão lentas, graduais e sem imposição nenhuma principalmente por conta das crianças. Em outro post vou detalhar como se deu isso.

Mas o que cargas d´água seria isso? A forma como nos alimentamos, baseados no especismo (achar que uma espécie animal é superior a outra). É fechar os olhos para o impacto ambiental provocado pela pecuária de corte. Pela violência que as vacas leiteiras passam. Como me manter feliz comendo meu adorado churrasco apenas por prazer egoísta com consequências tão nefastas?



Sim, é uma merda, eu adoro comer carne, eu trabalho com comidas e grande parte do cardápio envolve o uso de cadáveres. Só que eu também adorava fumar, adorava a comodidade da vida burguesa em Sampa com todos os fins de semana em baladas da moda e passeios em exposições. Só que é tudo incoerente eu ser "feliz" quando o resto do mundo tá se fodendo. E a mudança não será dos outros, será nossa. De cada um de nós.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Blogagem Coletiva: Mamãe tá de olho - Alimentação Infantil

 A iniciativa de participar desta blogagem coletiva foi pela Isabella Kanupp (blog Para Beatriz) que me convidou a participar também. Assunto que considero muito importante!

Bom, para todos que me conhecem, sabem que meu trabalho é cozinhar. Preparo de comidinhas básicas congeladas até bolos e doces finos. E é o que meus filhos mais me vêem fazer, cozinhar e quase sempre, não são os ditos pratos saudáveis... E claro, eles tem vontade de comer as mesmas coisas... É bem complicado lidar com isso.

Meus hábitos também não são dos mais saudáveis, tomo MUITO refrigerante de cola, amo um pão francês com manteiga, mortadela, miojo... Não tenho hábito de comer frutas muito menos salada, é uma coisa policiada senão não faço! E não porque não gosto, mas porque não tenho o hábito.

Meu companheiro é bem eclético na alimentação, adorando comer tanto um rango vegano preparado em coletivo de forma improvisada, como um banquete mais elaborado, mas não por isso, o paladar é exigente sim! No dia a dia, a alimentação dele é bem próxima do exemplar, café da manhã são frutas in natura, uma colher de sopa de azeite e kefir com granola caseira. No almoço, ele come MUITA verdura crua, sem tempero nenhum, como um coelhinho mesmo, e uma laranja de sobremesa. Lanche da tarde é fruta também com bolacha integral e repete a quantidade de verduras no jantar. Ele é o exemplo da casa em alimentação.
E foi com ele que aprendi a comer muitos alimentos integrais, coisa que nunca fiz, aprendi a apreciar a culinária vegetariana e outras vertentes que lidam com alimentação saudável (ah, muitos acham mas ele não é vegano!). E dentro deste contexto, aprendendo mais sobre isso, decidi que cuidaria rigorosamente da alimentação das crianças em casa, para se acostumarem desde cedo a hábitos saudáveis, eu até hoje tenho dificuldades em me alimentar de forma saudável, confesso.

Com a primeira filha fui bem chata e xiita, não deixava as pessoas darem besteiras para ela, e a alimentação era ainda mais rigorosa por ela ter ALPV (alergia a proteina do leite de vaca). As papinhas eram sempre preparados com muitas verduras, legumes, a introdução a sólidos mantive a qualidade da alimentação já acostumando com o amarguinho dos integrais. Bala ela só foi provar com 4 anos, primeiro chiclete foi no começo deste ano, e ainda aqueles sem açucar, doce além das frutas que ela consumia e bem pouco é o chocolate, que ela prefere os mais amargos mesmo. Hoje, com quase 7 anos, Ana come praticamente de tudo! E os pratos preferidos dela são jiló ou berinjela grelhados, quiabo refogado, legumes em geral no vapor (principalmente brócolis, couve flor e beterraba), macarrão da Pucca (yakisoba), picadinho vegetariano (com proteina de soja)... Com paladar acostumado a esse tipo de alimentação e o exemplo dos pais, foi muito importante! Claro que ela curte também se vamos ao shopping, comer um Mc Lixo inFeliz pelo apelo do brinquedinho, e sim, eu deixo ela comer (afinal, o proibido é mais gostoso não?)

Já com meu segundo filho... bem, vamos dizer que relaxei, mas relaxei demais! Até um ano de idade claro que fazia as papinhas com o mesmo cuidado que fiz para a Ana e os cuidados dentro de casa foram iguais, mas permiti que ele comesse batata frita quando ofereceram, doces, salgadinhos industrializados, deixei de ser aquela mãe chata que fazia cara feia pra tudo como fui com a Ana... Além do que, a Ana podia comer, e ela mesmo dava pro irmãozinho... Qual a consequência disso? Catastrófica! Ele tem o paladar queimado pelo excesso de condimentos dos industrializados. Hoje ele é um menino que vive de leite com achocolatado, arroz branco com farinha de mandioca, macarrão, batata frita, ovo frito, linguiça calabresa, uva e castanha do pará! E claro, todas as porcarias, balas, doces em geral, bolachas recheadas,  porcaritos... Ele não aceita nada que seja integral, nada que tenha verde... Sabe o quanto isso me é frustrante e se apresenta dia a dia como um fracasso total como mãe? É, em toda refeição tenho isso com meu filhote...

Semanas atrás vi pelo facebook o documentário Muito Além do Peso, e parei para assistir, meus filhos sentaram junto aqui no micro e começaram a acompanhar. As observações dos dois foram incríveis, a Ana entendendo porque os amiguinhos da escola comem diferente dela, mas o mais importante foi o efeito no caçula... ele começou a entender que o porcaritos faz "ai ai barriga", que é importante comer frutas, e mais, que ele não quer ficar doente nem tirando sangue (a cena da menina diabética mexeu demais com meus filhos, pois eu tenho diabetes e eles sempre me vêem fazendo exame com dextro, eles não querem o mesmo para eles).

O melhor reflexo do vídeo foi que o Gui come agora alface, pedacinhos de gengibre, como o pai, banana, maçã, carambola, peixe (por enquanto só aceita frito), feijão (que eu faço mas tem de conter calabresa) e pasmem! Ele comeu arroz integral conosco no almoço e salada de frutas de sobremesa (tá, ele pediu pra tirar o mamão e insisti um pouco pra comer tudo)! Espero mesmo que consiga reverter essa situação...

Enfim, é importantissimo cuidar dos hábitos alimentares dos nossos filhos? Com certeza!!! E o exemplo também é fundamental!!! E ter cuidado com a tal história de um pouquinho não faz mal... depende realmente MUITO de quando se faz isso e como... e qual regularidade desse pouquinho! Enquanto crianças pequenas ainda conseguimos controlar o que eles comem, depois vão crescendo e farão como os pais, e qual moral você terá em dizer, não pode? E como ouço sempre, não tenha o inimigo em casa!

A mesma papinha (beterraba), praticamente a mesma idade...



terça-feira, 23 de outubro de 2012

Nascimento do Guilherme Akira


- Por conta da diabetes gestacional, meu obstetra não queria correr o risco de estender a gestação além de 39 semanas, então fizemos indução mecânica (descolamento de placenta) no dia 13/07/09. Mas não tive nem sinal de contrações.

- Uma semana depois, na quinta, fui fazer monitorização fetal no Madre Theodora e meu obstetra resolveu fazer uma declaração de interrupção do parto, pois achou que a movimentação do Gui tinha diminuido (na verdade fizemos 2x o exame, mas demoravam tanto que eu comia, Gui mexia muito, mas passava 1h, era eu deitar que ele aquietava). Tive que ouvir do outro plantonista que era uma pena que estivesse em carência para o parto, pq dai ele me internaria a força e me colocaria na ocitocina até eu implorar por uma cesárea e parar de frescura.

- Fui pra Maternidade de Campinas e lá o médico declarou que o NST estava mal laudado, se recusou a tentar indução com ocitocina por conta da cesárea anterior justificando que é procedimento seguido pela Soc. de Ginecologia e Obstetrícia, agendando uma cesárea para a manhã do dia seguinte e me mandou de volta pra casa. Decidi que não voltaria mais lá.

- Na madrugada, às 0:15, a bolsa estourou. Fiquei muito feliz e fiquei aguardando as contrações começarem. Cheguei até a dormir um pouco... como não tive nem sinal de TP, decidimos às 4 da manhã ir pra Maternidade Celso Pierro (SUS).

- Lá me internaram e iniciaram o soro com ocitocina às 8hs da manhã. Antes teve a tricotomia (feita sem nem explicarem nem nada) e quando questionei falaram que era obrigatório (?!?). Não permitiram o acompanhamento da minha querida amiga e doula Rubi, que junto com meu marido ficaram numa luta pra conseguir me acompanhar no pré parto, só faltaram falar com o papa... mas não teve meios...

- Não senti nada até às 13:30 horas... A médica examinou, dilatação de 5 cm. Ficava apenas olhando as outras gestantes gemendo, entrando e saindo da sala de pré parto para ganhar os bebês... fiquei a única grávida na sala, como o movimento estava grande nesse dia, as mães voltavam pra essa sala após o parto.

- Passei a sentir as contrações mesmo, fortes, pelas 14 hs. Pedi para ir ao chuveiro para aliviar um pouco, mas já avisei a enfermeira da vontade de empurrar. Me levaram ao chuveiro, consegui me concentrar no parto mesmo e deixei meu corpo agir... agachei e passei a fazer força. A enfermeira me agarrou, pedi pra me deixarem alí, ela me deitou na maca e chamou médica. Dilatação total. Correram comigo pro centro cirurgico, chamaram meu marido pra assistir o parto (ao menos isso!!!), me anestesiaram (sob meus protestos), episiotomia e todos os outros procedimentos desnecessários foram feitos sem nem explicarem ou falarem... Como estava na Partolândia como fala a Rubi, nem me toquei da colocação do fórceps... só queria saber do meu marido e de deixar meu filho nascer...

- Foi um momento mágico e maravilhoso sentir e Guilherme saindo e ouvir seu primeiro chorinho... tão baixinho... totalmente indescritível a energia e felicidade que senti nesse momento.

- Depois disso, veio a sessão tortura... não sei se a anestesia aplicada ainda não tinha feito efeito, mas senti todas as agulhadas da sutura da episio, os apertões pra acelerar a saída da placenta, retirada do fórceps... nessa hora senti dores, reclamei muito, nem sei quando tiraram o Idilio da sala. Depois me mandaram pra sala de recuperação, onde fiquei até sábado a tarde, por falta de quartos... Também não sei quanto tempo levaram pra me trazer o Gui pra mamar, mas ao menos deixaram-o comigo o tempo todo depois, mesmo em condições precárias dentro do Centro Obstétrico. Só fui para o quarto mesmo no sábado a tardinha, onde pude ver meu marido, que me contou dos casos de gripe H1N1. Ainda tentamos alta assinando termo de responsabilidade, mas queriam manter o Guilherme lá... resolvemos aguardar a alta no domingo, mesmo com medo. Pedi que ninguém viesse ao hospital pelos riscos já que sairia no dia seguinte.

- Minha recuperação física é milhões de vezes melhor, emocionalmente estou mais fortalecida, sinto uma grande paz, mesmo em meio aos problemas todos que passamos... não por conta da via de parto, mas pela luta desde antes do Guilherme ser concebido, do apoio mais do que necessário de meu amado esposo, a ajuda e compreensão de toda a familia, as orientações da Rubi (e a amizade especial que ganhei). Sinto sim que somos vencedores..
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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Questões de parto e feminismo

Lendo um texto sobre violência obstétrica postado no Blogueiras Feministas, uma das respostas me chamou demais minha atenção por concordar plenamente com ela e aqui reproduzo. E ai, o que você pensa sobre isso?




De: Renata Correa

O que chama muita atenção e causa espanto que quando o assunto é o parto a porta para o diálogo é sempre fechada com alegações de que sim, a cesárea pode ser uma escolha. Eu também acho que a cesárea pode ser uma escolha legítima e não só uma cirurgia de emergência, mas definitivamente me causa espanto que essa seja a alegação e a bandeira TODA vez que abordamos o assunto, pois ele é muito mais complexo do que isso. Envolve um machismo extremamente virulento, envolve desiguladade de classe e racial, envolve conhecimento técnico, a situação da prática e da remuneração médica no brasil como um todo.
Mas eu gostaria de me ater a dois aspectos:
O primeiro é: militantes pelo parto humanizado não estão discutindo a cesárea individual, e sim a cesárea como epidemia.
A cesárea individualmente é sua cesárea, é a cesárea da vizinha ou da sua mãe. Quando temos 85% de cesareanas na rede privada e cerca de 50% de cesareanas na rede pública é DADO de saúde. E o que esses dados dizem?
Em primeiro lugar que não existe respeito pelo desejo da mulher pela via de parto. Segundo pesquisas, a maioria das mulheres sabe leigamente sobre os riscos da cirurgia, e gostaria de “tentar um parto normal”. Mas a maioria acaba sendo submetida a uma cesárea, geralmente sem respaldo médico ou em evidências científicas.
A prática médica e a realidade do atendimento obstétrico não estão descolados da realidade da sociedade: desigual, patriarcal, capitalista e machista.
Ela é desigual quando sabemos que quanto mais jovem e negra, mais a possibilidade de uma mulher sofrer violência obstétrica. Ou quando um médico diz que até faria parto normal, mas a paciente é tão “branquinha” e isso é mais fácil para índias e negras. (Eu ouvi isso)
É patriarcal quando o médico se acha no direito de mentir a respeito das causas que o levaram a indicar a cirurgia. Quando o médico passa por cima da lei do acompanhante, não permitindo a entrada de doula ou do marido no centro obstétrico pois “vai atrapalhar e para ter seu filho vc só precisa do médico”.
É capitalista quando as cesáreas são agendadas por uma questão comercial do estabelecimento (hospital), que também vende serviços conexos que dependem do agendamento e horários pré estabelecidos – como fotógrafo, buffet com garçom, maquiador, “cine parto”, etc.
É machista quando práticas médico-farmacológicas ultrapassadas como a episiotomia de rotina, mutilam o corpo da mulher, causando danos irreversíveis.
E esses são só alguns exemplos.
O segundo aspecto é mais “filosófico”.
Vivemos uma cultura onde o corpo da mulher é tratado como corpo patológico e tudo que vem dele é patologizante, principalmente se estamos falando da vagina.
Apenas por termos nascido mulheres estamos erradas e necessitamos de todo tipo de intervenção para enquadrar o nosso corpo no padrão normatizante – precisamos nos depilar, pois pelos são sujos, suspender a menstruação indiscriminadamente por ser incomoda (falo indiscriminadamente pois existem casos onde sim, é necessário ou desejável suspendê-la.) precisamos usar absorventes neutralizadores de odor pois a vagina “fede”.
Quando falamos em gravidez e parto nem se fala: grávidas são bombas relógio que NECESSITAM de intervenções ou irão morrer. Com variações é esse o discurso médico vigente.
A maioria dos médicos que engana as pacientes com falsas indicações de cesárea usa o discurso cruel de não funcionamento do corpo da mulher (você não dilata, você é estreita, suas contrações são irregulares) ou o discurso do terror que usa o desconhecimento técnico da mulher para submetê-la (seu bebê está em “sofrimento” quando a patologia “sofrimento fetal” é rara e de diagnóstico multidisciplinar e dificílimo).
Quando uma mulher reproduz o discurso de “não tenho estrutura emocional para ter um parto normal”, ou “tenho medo da dor” ela está reproduzindo o discurso machista do não funcionamento do corpo dela. Pode ter escolhido agendar a cesárea por esses motivos, e terá sido uma escolha legítima, mas ainda assim será SINTOMA de como a sociedade trata o nosso corpo feminino – fraco, incapaz, defeituoso.
Quando uma mulher diz que “prefere confiar no médico” que quer lhe aplicar uma cesárea a despeito de evidências científicas ou de sua vontade, também é uma escolha legítima – mas ainda assim ela está reproduzindo uma relação patriarcal onde a vontade, a disponibilidade, o desejo e a agenda do médico estão acima de sua saúde, da saúde do seu bebê e acima de suas necessidades fisiológicas e emocionais como parturiente.
Então eu realmente gostaria que quando começassemos a discutir o assunto parto num ambiente feminista, a gente PARASSE de falar do próprio parto, de se justificar, de dizer que comigo foi assim e assado e que acha que cesárea é uma super escolha no brasil quando na verdade temos uma conjuntura de extrema opressão.
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Só dois palitos:
Muita gente confunde parto humanizado com parto natural – um parto humanizado é um parto onde a equipe respeita as decisões da mulher a respeito do parto e segue as evidências médico científicas a respeito do parto e dos cuidados com o neonato. Já o parto natural é o parto feito sem nenhuma intervenção – soro com hormônio sintético, anestesia ou episiotomia. Um parto natural pode ser humanizado e vive versa, mas não são a mesma coisa. Um parto humanizado pode ter anestesia, por exemplo, se for desejo da mulher.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Todo mundo é incompetente, inclusive você!



Lembro na minha pré adolescência que meu pai me mostrou esse livro, no intuito de falar que não dá pra ser perfeito e fazer tudo... E hoje lembrei dele, em meio ao turbilhão de coisas que passam em minha cabeça...

Estava pensando nas razões que me levam a depressão, porque não ligo muito para mim, sou tão desapegada ao meu corpo fisico e ultrapasso os limites de preservação.

A que nivel de incompetência que o ser humano chegou? Hoje somos incompetentes para pensar sozinhos, para fazer o minimo para si e para os outros. Tão fácil falar que a mídia, que a sociedade, que isso ou aquilo gera o alienamento, a acomodação, etc... Mas somos imcompetentes para romper com isso? Somos tão incompetentes que hoje as mulheres não sabem nem mais parir, nem maternar, nem cuidar dos filhos, que as pessoas em geral não sabem cozinhar um mínimo, como cuidar de uma casa, de uma planta, de todas as questões cotidianas, não sabemos nem ao menos tomar decisões mais! Ter iniciativa para absolutamente nada! Simplesmente ir e fazer... precisamos das bençãos dos outros, precisamos de líderes, da ordem e pensamento de outros para seguir?

Que merda viramos??? Que porra de racionalidade é essa que de racional não tem nada? Em que ponto nos perdemos e ficou comodo delegar e terceirizar nossa vida?

Sim, hoje estou super deprimida, com nojo de ser humana, com a destruição do planeta e de nós mesmos. Porque é para isso que estamos caminhando. Porque cargas d´água acreditei que é possivel o mundo ser melhor e ter filhos? Se o restante do mundo NÃO QUER MUDAR, alguns ficam só no QUERIA QUERENDO mas não se mexe uma virgula pra mudar isso? E por que só os outros tem de mudar e eu não? 

E por que eu que sou errada em querer e lutar por um mundo melhor, sozinha catando as conchas na praia? Por que não consigo instigar outras pessoas a fazerem o mesmo? Por que dá trabalho? Por que estão mais preocupados em ter dinheiro para um novo celular, um carro melhor, viajar, curtir o rolê, porque é mais interessante e necessário enriquecer outros para receber apenas as migalhas?

Olho para meus filhos e minha vontade no momento é de pedir perdão... por deixar a eles essa merda que está caminhando cada vez mais para o pior, e fazer tão pouco com o que posso. Pois estou sozinha, porque só eu vejo que isso está muito errado e quer realmente mudar...